segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O admirador secreto


Continho vencedor do 1º Concurso de Contos Casa do Escritor - categoria acima de 24 anos.

Bernardo por semanas a fio enviou flores, caixas de bombom e cartas românticas e inspiradas à sua vizinha, Lucinda, por quem estava perdidamente apaixonado. Como era um sujeito tímido, o tal Bernardo acabou fazendo uso da antiga brincadeira do admirador secreto. Nada como um pouco de mistério para despertar uma paixão! O pretendente foi tão convincente em seu papel de “secreto”, que chegou a usar outro número de celular para trocar mensagens com Lucinda.
Combinaram de se encontrar em um Shopping. A moça, ansiosa que estava, chegou bem antes do horário programado. Bernardo, coração aos pulos, apareceu, trajando sua melhor roupa, trazendo nas mãos trêmulas um belo e enorme buquê. Lucinda mostrou-se surpresa ao vê-lo.
-Que faz aqui? – Questionou a moça – Também veio para um encontro?
Bernardo, diante de sua paixão, acovardou-se vergonhosamente.
-Sim. Marquei com uma moça que conheci estes dias... – mentiu o admirador.
-E eu finalmente vou conhecer o meu admirador secreto! – Lucinda não escondeu o sorriso.
-Nossa! Que coisa mais antiquada isso de “admirador secreto”! – O rapaz fez cara de desfeita.
-Pois eu acho super-romântico! – Só faltou à admirada suspirar – Acho que ele está atrasado... – Consultou o pequeno relógio no pulso.
-É mesmo! – Bernardo disfarçou, olhando para todos os lados – A minha companhia também ainda não chegou – Ele não sabia mais onde metia a cara. Temia que Lucinda descobrisse a sua “identidade”. Talvez o próprio nervosismo o entregasse...
Ficaram esperando, em silêncio, por um longo tempo.
-Acho que levei um bolo – Lucinda abaixou a cabeça e começou a revirar o interior da bolsa que trazia no ombro direito – Vou mandar uma mensagem perguntando onde ele está! – Tomou o celular.
-Nada disso! – Bernardo a impediu – Se ele não aparece, é ele quem sai perdendo. Você não pode se humilhar – Aquela tática TINHA que dar certo, caso contrário, o celular em seu bolso tocaria no exato momento em que Lucinda enviasse a mensagem – Ainda mais se humilhar para um estranho!
-É admirador secreto, não admirador desconhecido – Explicou a garota – Pode ser alguém próximo a mim.
-Duvido! Se fosse alguém que você conhece, falaria contigo de uma vez, não faria este teatro todo – Fez uma expressão desaprovadora – EU faria isso...
-É... Pode ser... – Lucinda sorriu – Acho que você também levou um bolo...
-Pois é... Que coincidência... Bem, o que acha de aproveitar que estamos aqui e inventarmos alguma coisa?
-Eu topo!
Bernardo entregou-lhe o buquê e saíram de braços dados. Formavam, afinal, um belo casal. O rapaz pensava consigo que se tivesse feito diferente, se revelando, as coisas não sairiam tão perfeitas.
Pobre do sujeito que acha que pode mentir ou esconder os seus sentimentos de uma mulher: Enquanto o homem dá dois passos, a mulher já tem percorrido a trilha inteira.


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