quinta-feira, 27 de junho de 2013

Origens

 
 
 
Da brutalidade, surgiu o ódio,
Da delicadeza, o amor.
Dos sentimentos, surgiu o perdão,
Do ressentimento, o rancor.

Da força da imaginação, surgiu a arte,
Do desinteresse, a ignorância.
Do desprezo pelo mundo, surgiu a velhice antecipada,
Do gosto pela novidade, a eterna infância.
 
Da alegria pela vida, surgiu a felicidade,
Do terror pela morte, a tristeza.
Do orgulho, surgiu a feiura,
Da simplicidade, nasceu a beleza.

Do desejo pela criação de um ser inteligente, foi gerado o homem.
Da selvageria do homem, a escuridão nasceu.
Vendo que a sua maior criação havia se pervertido,
O Criador se entristeceu.
 

domingo, 23 de junho de 2013

Errando o alvo


-Não pago o resgate!
Levaram o filho da empregada.

Sensação


Sofia viajou acompanhada. Sentiu-se só.

Esboço


Analisaram o esboço: Até o resultado final, era questão de esforço.

Contra o egoísmo


Pensava nela. Não é que estivesse apaixonado: Não era egoísta.

Espera


Por não ter onde ir, ficou parado no mesmo lugar á esperar, e esperar...

Inveja musical


O cantor invejou a cigarra que não precisava de plateia para cantar.

sábado, 15 de junho de 2013

Conselhos amorosos



Vendo que nenhuma de suas relações tinha vida longa, Mateus foi pedir conselhos amorosos ao velho tio Leocádio. O irmão de seu falecido pai fora casado por quase cinco décadas. O que impedira aquela união de completar bodas de ouro foi a morte da esposa. Mateus ainda lembrava-se da tia. Era uma boa mulher.

-Não consigo entender isso chamado amor, tio. – Queixou-se o sobrinho.

-O amor é o sentimento mais conflituoso que existe. Não se deve tentar compreendê-lo – Explicava o idoso - mas sim aprender com cada nova experiência e descoberta. O amor é composto por companheirismo, confiança e fidelidade e exige compreensão, devoção e sacrifício. Enquanto não estiver preparado para isto tudo, não estará pronto para amar.

-Que bonito tio – Mateus estava admirado com as palavras de Leocádio – Posso ter errado, e feio, nas minhas relações, mas sempre enfrentei um problema: O senhor sabe quando o amor vai morrendo aos poucos...?

-O amor não é algo que nasce e pode simplesmente apagar-se ou morrer. Ele é mais forte que tudo o que há. É a representação da vida e persistirá enquanto houver uma única chama ardendo ou enquanto respirar nem que seja somente uma das partes envolvidas. Sinto te dizer que as experiências que você teve não envolviam amor. Paixão, talvez.

-Paixão...

-Sim... A paixão, ao contrário do doce sentimento chamado amor, dá frutos amargos e costuma ser avassaladora. Trata-se de uma droga, um vício, que te transforma, prende, viola, escraviza, corrói... Disseminada pelo anjo caído, é uma das grandes tentações e perdições da vida terrena.

-Como distinguir amor de paixão?

-Quando o teu corpo pedir loucamente a presença de uma pessoa e você se sentir preso a ela, acredite: Você está apaixonado. Mas quando o teu coração pedir alguém incessantemente e nada nem ninguém for capaz de aplacar ou substituir esta presença, acredite: Você a ama.

-Então foi paixão mesmo – Mateus ficou cabisbaixo - Ao menor sinal de problema, sempre desisti das minhas relações. Mas... Um verdadeiro amor... Quem em sã consciência não lutaria por ele?

-Agora você está começando a entender – Leocádio sorriu.

-Outro problema que sempre enfrentei, tio, foi não conseguir demonstrar os meus sentimentos.

-Bem, isto é questão de ser humilde e abrir o coração. Se for o caso, provar o que alega. Mas veja bem: Uma prova de amor não precisa ser uma obra de grande suntuosidade, mas tem que ser, indubitavelmente, uma obra de sinceridade.

-Tio, qual o grande segredo do amor?

-Não dê ouvidos e não se deixe influenciar por este mundo egoísta no qual vivemos, repleto de pessoas egoístas com as quais convivemos: Para provar do amor, deve-se amar mais ao outro do que a si próprio.

Mateus agradeceu e partiu. Enquanto se afastava da casa de Leocádio, o rapaz pensou:

-“Amar mais ao outro do que a si próprio”? Mas é um velho trouxa mesmo!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Louca mania

 
 
      Que mania doida é esta de pensar? Ficar pensando, o tempo todo, todo dia, sem parar...
      Pensar em tudo, no tudo, no todo. Em todo aspecto, da vida, do jogo.
      Se o vento sopra, para onde ele nos levará? Se o mar sacoleja, quem o está a movimentar? Se a noite é escura, porque sempre no mesmo horário apagam-se as luzes? Se nós somos gente, porque agimos constantemente como animais? Se existe o permanente, porque vivemos voltando para trás?
      Seria a dor de dente uma as provocações de Satanás? De trás para frente, de frente para trás, se não temos direção estipulada, porque perder tempo procurando a correta e não simplesmente nos direcionarmos á nosso modo?
      Se o disco voador, o lobisomem, o vampiro e o dragão realmente não existem, porque são tão mencionados e cultuados desde o princípio dos tempos? Está o mal dentro de todos nós? Cedemos á ele por escolha própria ou somos forçados á ele nos curvar?
      Se uma pergunta procura, por sua função lógica, uma resposta, porque, quando encontramos a solução que procuramos, outras milhares de questões vem á tona? Porque desgraça pouca é bobagem e tudo o que é bom dura pouco?  Porque quem está certo é certo, e quem está errado é louco?
      Porque o dinheiro nos movimenta, se ele é a mais pura dentre as ilusões? Nos envolve, nos condena, a passar a vida toda na pior dentre as prisões. Se tudo fosse fácil demais, não teria a vida a menor graça, porque sempre desejamos que as coisas nos sejam facilitadas? Se a vida foi feita exclusivamente para se viver, porque vivemos com um intenso medo de morrer? Se o amor, este sentimento bonito, existe de fato, porque toda relação envolve ressentimentos e dor?  Porque esta louca e falha obsessão humana por generalizar e rotular tudo? Por organizar e separar tudo? Por controlar e direcionar o mundo?
       Porque perguntamos quando temos a mais absoluta certeza de que não conseguiremos responder? Porque nos isolamos se jamais conseguiremos nos esconder? Porque fingimos ser algo que nunca iremos ser? Porque desejamos o que não podemos ter?
        Porque o homem tanto lixo consome? Porque o cérebro sente fome? Porque tanta gente some? Porque sempre o líquido melhor está em outra fonte?
        Porque a volta sempre é mais rápida que a ida? Porque nos só pensamos quando já nos encontramos sem saída? Porque, para o criador, a perfeição nunca é obtida? Porque a maior parte de nossa capacidade mental permanece retida? Para onde foi a amizade, a ternura, entre os iguais, os irmãos, que permanece desaparecida?
        Quando foi que a vontade humana de revolucionar e lutar por seus direitos e vontades morreu? Quando foi que a tomada do mal se sucedeu? Quando e onde foi que a inocência de nossas crianças desapareceu? Tudo no mundo mudou tão rápido... O que aconteceu?
        Todos temos nossas manias, loucas manias, gostosas, tão próprias de nós mesmos, que nos fazem ser quem nós somos de fato. Essa minha louca mania só me tem feito mal. Tudo em minha vida tem se resumido á uma obsessão total. As pessoas me olham de forma estranha ao passarem por mim nas ruas e confesso que eu mesmo tenho estranhado ao ver o reflexo da minha imagem no espelho.
        Louca mania, louca mania sem fim, larga logo, larga de mim...