domingo, 8 de setembro de 2013

A grande descoberta



No princípio dos tempos, no topo da árvore mais alta e frondosa um homem decidiu subir. Escalou por um longo tempo e, quando no alto chegou, tendo ampla visão daquela vastidão verde e intocada, descobriu que o mundo era muito maior do que seus semelhantes e ele, até então, supunham. Desceu às pressas e contou a novidade a sua mulher: Fora da floresta na qual sua aldeia se localizava, havia todo um universo de montanhas, rios, matas e tantos animais, dos mais variados tamanhos e espécimes, que nunca lhes faltaria o que comer.
Após desobedecer aos avisos e ordens do grande líder, o sábio ancião, o descobridor organizou uma expedição de homens, tão curiosos e ambiciosos quanto ele, e partiram. Ao confrontarem toda a selvageria da fauna e flora do mundo primitivo, muitos dos que se aventuraram naquela viagem morreram. Os poucos que chegaram, para além de uma erma colina, descobriram outro povo.
Os membros da tribo, que naquele território habitava, tal qual os símios, escondiam-se em cima das árvores, camuflando-se entre as folhas. Não caçavam; alimentavam-se unicamente do verde.  Não sabiam o que eram armas. Os únicos instrumentos que lhes serviam de equipamento, úteis cortadores de folhas e ramos, eram as suas próprias mãos. Viviam em harmonia com os animais. Os viajantes não acreditaram no que viam. Um dos habitantes locais desceu até o chão, acenando amigavelmente.
-Perceberam que viemos tomar suas terras! – Berrou o chefe da expedição que, com suas más intenções, acabava vendo perigo onde não havia – Ataquem! Ataquem! – Ordenou.
Flechas zuniram para todos os lados. Do topo das árvores - alguns inertes, outros se debatendo – corpos caíram. O sangue inocente encharcou o solo até então puro. Os animais que ali conviviam, serenamente, com os homens, correram, espantados com toda aquela carnificina. Os bichos primitivos até então desconheciam um ser que atacava, sem motivo, os da própria espécie. Uma vez que atacam os seus, o que não fariam aos outros?
Muitos mortos, poucos fugitivos, os vencedores daquela covarde contenda passaram a vista ao redor, estudando o terreno.
-Iam nos atacar – Justificou-se o líder dos viajantes, sentindo o peso de todas aquelas mortes sobre seus ombros – Iam nos atacar – Repetiu, tentando convencer-se do que afirmava. O gosto pelo assassínio (da sensação de poder que dar cabo à vida alheia trazia) dominava, lentamente, o seu ser.
A grande descoberta, para aqueles homens, poderia ter sido a de que o mundo era infinitamente maior do que se suspeitava, ou a de que não estavam sós no planeta, mas na verdade foi outra que, anunciada pelo líder dos viajantes, mudaria, para todo o sempre, o rumo da assim chamada humanidade:
-Tomamos, é nosso! – Gritou o chefe, apontando o verde tingido de rubro.




Um comentário:

  1. Limerique

    Era uma vez chovinista sociedade
    Egotista que cultuava a maldade
    Dizia-se criatura de deus
    Mas indiferente aos seus
    Dispunha do mundo a sua vontade.

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