terça-feira, 19 de março de 2013

Expresso solidão






Expresso solidão.                                                                           
“O trem está deixando a estação
O seu destino: A solidão!
Nessa viagem eu sigo sozinho
Estrada de ferro é como a cruz e o espinho”

Expresso solidão, Cachorro Velho Blues Band.


Na plataforma, sozinho, eu esperava a chegada do trem que iria me levar rumo a um lugar que minha memória, no momento, não me permitia lembrar. Destino ignorado. Sabia, no entanto, que se tratava de um lugar estranho e distante, mas, até ai, praticamente todos os lugares pelos quais nunca passamos ou nos quais nunca estivemos assim nos parecem.
Quando, enfim, o trem despontou ao longe, procurei, esperançoso, por mais passageiros. Mas a estação estava vazia. Nem passageiros, nem funcionários, nem cãozinho com o rabo entre as pernas. Nada. Só eu comigo mesmo.
Assim que a máquina parou junto á plataforma, surpreendi-me ao constatar que havia somente e apenas um vagão. Mais do que isso, era, aquele, um vagão tão pequeno que não poderia comportar, confortavelmente, mais do que uma pessoa. Não. Não poderia ser aquele o meu trem.
E fiquei ali, boquiaberto, esperando pela saída dos passageiros, do maquinista, o aparecimento de mais passageiros para embarque ou o chamado de comparecimento à plataforma soando das caixas de som espalhadas pela estação. Qualquer movimentação que fosse seria de grande valia. Mas, uma vez mais, nada aconteceu.
-Veio rápido, não? O seu trem – Um velho meio que se materializou ao meu lado. Vestia-se socialmente e tinha modos muito polidos. Talvez por isso exalasse um ar confiável.
-Eu esperava sozinho – Lembrei – Nunca a passagem do tempo é rápida quando se está só.
-Engana-se – O velho coçava um antiquado bigode grisalho – Você se acostuma com a solidão. E ela com você. No mais, quem quer que o tempo passe rápido demais?
-Quem é o senhor?
-Sou o administrador desta estação. E como vê, a máquina está apenas aguardando você para partir.
-E não vai mais embarcar ninguém?
-Não. De forma alguma – revelou - Essa viagem é de um passageiro só.
-Qual o trajeto desta viagem?
-O caminho, independente de quem ou como seja o passageiro, é praticamente sempre o mesmo. O que varia é a duração da viagem. Alguns chegam ao fim mais cedo, outros mais tarde.
-E quanto ao maquinista? Está ai dentro?
-Não precisa de maquinista, meu caro – O velho riu-se – A máquina segue sozinha. O destino dos viajantes desta linha é, a exemplo do caminho, sempre o mesmo. Mas como é? – Consultou um antigo relógio de bolso – Vai embarcar ou não?
-E quando é a viagem de volta?
-Esta é uma viagem da qual dificilmente se consegue voltar...
-Então não vou. Obrigado. Esperarei pelo próximo trem.
-Você é quem sabe. O expresso solidão sempre estará de portas abertas, encostando-se a esta plataforma assim que uma viagem se fizer necessária.
A máquina apitou e partiu.
O velho administrador desapareceu.
Num piscar de olhos, a estação se encheu de gente, de vida, e eu já não estava mais só.

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