Continho vencedor do 1º Concurso de Contos Casa do Escritor - categoria acima de 24 anos.
Bernardo por semanas a fio enviou
flores, caixas de bombom e cartas românticas e inspiradas à sua vizinha,
Lucinda, por quem estava perdidamente apaixonado. Como era um sujeito tímido, o
tal Bernardo acabou fazendo uso da antiga brincadeira do admirador secreto.
Nada como um pouco de mistério para despertar uma paixão! O pretendente foi tão
convincente em seu papel de “secreto”, que chegou a usar outro número de
celular para trocar mensagens com Lucinda.
Combinaram de se encontrar em um
Shopping. A moça, ansiosa que estava, chegou bem antes do horário programado.
Bernardo, coração aos pulos, apareceu, trajando sua melhor roupa, trazendo nas
mãos trêmulas um belo e enorme buquê. Lucinda mostrou-se surpresa ao vê-lo.
-Que faz aqui? – Questionou a moça –
Também veio para um encontro?
Bernardo, diante de sua paixão,
acovardou-se vergonhosamente.
-Sim. Marquei com uma moça que conheci
estes dias... – mentiu o admirador.
-E eu finalmente vou conhecer o meu
admirador secreto! – Lucinda não escondeu o sorriso.
-Nossa! Que coisa mais antiquada isso de
“admirador secreto”! – O rapaz fez cara de desfeita.
-Pois eu acho super-romântico! – Só faltou
à admirada suspirar – Acho que ele está atrasado... – Consultou o pequeno
relógio no pulso.
-É mesmo! – Bernardo disfarçou, olhando
para todos os lados – A minha companhia também ainda não chegou – Ele não sabia
mais onde metia a cara. Temia que Lucinda descobrisse a sua “identidade”.
Talvez o próprio nervosismo o entregasse...
Ficaram esperando, em silêncio, por um
longo tempo.
-Acho que levei um bolo – Lucinda
abaixou a cabeça e começou a revirar o interior da bolsa que trazia no ombro
direito – Vou mandar uma mensagem perguntando onde ele está! – Tomou o celular.
-Nada disso! – Bernardo a impediu – Se
ele não aparece, é ele quem sai perdendo. Você não pode se humilhar – Aquela
tática TINHA que dar certo, caso contrário, o celular em seu bolso tocaria no
exato momento em que Lucinda enviasse a mensagem – Ainda mais se humilhar para
um estranho!
-É admirador secreto, não admirador
desconhecido – Explicou a garota – Pode ser alguém próximo a mim.
-Duvido! Se fosse alguém que você
conhece, falaria contigo de uma vez, não faria este teatro todo – Fez uma
expressão desaprovadora – EU faria isso...
-É... Pode ser... – Lucinda sorriu –
Acho que você também levou um bolo...
-Pois é... Que coincidência... Bem, o
que acha de aproveitar que estamos aqui e inventarmos alguma coisa?
-Eu topo!
Bernardo entregou-lhe o buquê e saíram
de braços dados. Formavam, afinal, um belo casal. O rapaz pensava consigo que
se tivesse feito diferente, se revelando, as coisas não sairiam tão perfeitas.
Pobre do sujeito que acha que pode
mentir ou esconder os seus sentimentos de uma mulher: Enquanto o homem dá dois
passos, a mulher já tem percorrido a trilha inteira.
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