Fazia já bastante tempo que não
havia quem a viesse visitar. Fazia bastante tempo, também, que não havia quem
ela visitasse. Todos a quem conhecera, amados, odiados, queridos, indesejados,
se haviam ido, soprados definitivamente da existência por aquela força milenar,
incompreensível, irresistível e inevitável, a que a velha chamava de Fim. Mas
ainda assim a velha prosseguia. A lenha que a mantinha aquecida era o passado. Seu
combustível era uma mescla de lembranças e de saudades.
E pensava nisso quando se deu
conta de que lá fora tudo era silêncio. O mundo emudecera.
Uma fumegante xícara de chá
depositada sobre a mesa de centro permanecia intocada. As cortinas da janela da
sala começaram a ser sopradas por uma delicada brisa; brisa esta que trazia
para o interior da casa o cheiro puro e deliciosamente adocicado e primaveril das
flores do jardim. A velha largou a bengala e ouviu o som oco e ecoante que o
instrumento fez ao chocar-se contra o assoalho atapetado. Os ponteiros do
relógio na parede pareceram mover-se cada vez mais vagarosamente, até cessarem
por completo seu costumeiramente ininterruptível trabalhar.
A velha agarrou-se aos braços da
poltrona como um náufrago se agarra aos destroços de um navio. Teve medo porque
sabia que era o Fim que chegava. Mas, repentinamente, permitiu-se relaxar.
Morreria sozinha, mas seu corpo poderia se despedir da vida, decompor-se, no
silêncio, longe da tristeza dos vãos ritos funerários.
O que todos temiam era o mistério
do Fim, mas essa brisa sobre ela já estava soprando.
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