No princípio dos tempos, no topo da árvore mais alta
e frondosa um homem decidiu subir. Escalou por um longo tempo e, quando no alto
chegou, tendo ampla visão daquela vastidão verde e intocada, descobriu que o
mundo era muito maior do que seus semelhantes e ele, até então, supunham. Desceu às pressas e contou a novidade a sua mulher: Fora da floresta na qual sua
aldeia se localizava, havia todo um universo de montanhas, rios, matas e tantos
animais, dos mais variados tamanhos e espécimes, que nunca lhes faltaria o que
comer.
Após desobedecer aos avisos e ordens do grande
líder, o sábio ancião, o descobridor organizou uma expedição de homens, tão
curiosos e ambiciosos quanto ele, e partiram. Ao confrontarem toda a selvageria
da fauna e flora do mundo primitivo, muitos dos que se aventuraram naquela
viagem morreram. Os poucos que chegaram, para além de uma erma colina,
descobriram outro povo.
Os membros da tribo, que naquele território habitava,
tal qual os símios, escondiam-se em cima das árvores, camuflando-se entre as
folhas. Não caçavam; alimentavam-se unicamente do verde. Não sabiam o que eram armas. Os únicos
instrumentos que lhes serviam de equipamento, úteis cortadores de folhas e
ramos, eram as suas próprias mãos. Viviam em harmonia com os animais. Os
viajantes não acreditaram no que viam. Um dos habitantes locais desceu até o
chão, acenando amigavelmente.
-Perceberam que viemos tomar suas terras! – Berrou o
chefe da expedição que, com suas más intenções, acabava vendo perigo onde não
havia – Ataquem! Ataquem! – Ordenou.
Flechas zuniram para todos os lados. Do topo das
árvores - alguns inertes, outros se debatendo – corpos caíram. O sangue inocente
encharcou o solo até então puro. Os animais que ali conviviam, serenamente, com
os homens, correram, espantados com toda aquela carnificina. Os bichos
primitivos até então desconheciam um ser que atacava, sem motivo, os da própria
espécie. Uma vez que atacam os seus, o que não fariam aos outros?
Muitos mortos, poucos fugitivos, os vencedores
daquela covarde contenda passaram a vista ao redor, estudando o terreno.
-Iam nos atacar – Justificou-se o líder dos
viajantes, sentindo o peso de todas aquelas mortes sobre seus ombros – Iam nos
atacar – Repetiu, tentando convencer-se do que afirmava. O gosto pelo
assassínio (da sensação de poder que dar cabo à vida alheia trazia) dominava, lentamente, o seu ser.
A grande descoberta, para aqueles homens, poderia
ter sido a de que o mundo era infinitamente maior do que se suspeitava, ou a de
que não estavam sós no planeta, mas na verdade foi outra que, anunciada pelo
líder dos viajantes, mudaria, para todo o sempre, o rumo da assim chamada
humanidade:
-Tomamos, é nosso! – Gritou o chefe, apontando o
verde tingido de rubro.
Limerique
ResponderExcluirEra uma vez chovinista sociedade
Egotista que cultuava a maldade
Dizia-se criatura de deus
Mas indiferente aos seus
Dispunha do mundo a sua vontade.