Qualquer semelhança desta composição com a realidade deve ser considerada uma mera coincidência.
Gostaria de ser como as palavras... Na impossibilidade de sê-lo, sou escritor; assim, mantemos contato.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
domingo, 22 de dezembro de 2013
Ilustrações de Kuczynski
Textos breves e rimados inspirados em belas e críticas ilustrações do polonês Pawel Kuczynski (Site do artista AQUI).
Um copo desperta a sede
Uma garrafa inteira sacia
E lá vem a costumeira ressaca
Um gole pra começar o dia!
Toda uma vida "vivida" segundo os conceitos sociais
e no momento em que percebeu a merda que tinha feito
Era tarde - Impossível voltar atrás.
Armazenar é sinônimo de preservar!?
Cultura, identidade, viram recordações
Um mundo onde o ontem permanece vivo?
Há quem julgue isso mais uma dentre tantas utópicas ilusões.
Ah, toda a pureza que advém da natureza!
Mas há de se vi$ar os benefício$
de se indu$trializar o que cai em nossas mesas.
Para o bicho homem massacrar os demais animais
Deve haver uma só explicação:
Resposta a um complexo de inferioridade do cão!
Isso é importante!
Isso não é!
Leia o que recomendamos!
Deixe o resto para a ralé!
Cada minuto passado
é uma nova pazada
alargando e aprofundando
nossa futura e definitiva morada.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Inevitável
-O tempo não passa de um conceito humano - Afirmou o professor perdendo um bom tempo nessa reflexão.
Muita maldade...
Não entendia o mal que assolava o coração das pessoas; Desejava a morte aos estupradores, assassinos, sequestradores...
Tempo para dormir
Acordou angustiada, levantou-se da cama e foi fazer o que tinha de ser feito: Haveria bastante tempo para dormir quando morresse.
A procura
Naquela semana comeu salgadinhos de todas as lanchonetes da cidade. Onde encontraria pastéis iguais àqueles que o senhor Zezinho fazia?
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
A cauda do diabo
Texto a ser publicado na antologia "Contos do outro mundo" da Câmara Brasileira de Jovens Escritores.
Naquela madrugada, Rafael foi
desperto pelo irmão.
-Acorde Rafa! – Lucas chamava,
cutucando desesperada e insistentemente o braço do adormecido – Por favor,
acorde!
-O que há Luquinha? – Rafael
encontrou o caçula dependurado sobre a sua
cama do beliche.
-Um homem acabou de passar aqui!
Rafael estudou o quarto, cujos
acessos estavam fechados. O cômodo era iluminado pela parca luz que
ultrapassava a janela.
-Não tem ninguém, Lucas!
-Mas eu vi! Passou na minha
frente – O menino pulou para cima da cama do irmão.
-E para onde ele foi?
-Entrou no quartinho das
bugigangas.
Rafael saltou para fora do
beliche e foi até o quartinho de bugigangas. Esse era o pequeno espaço onde os
irmãos jogavam os seus pertences quando estavam com preguiça de organizá-los.
-Cuidado Rafa! – Sussurrou Lucas.
O rapaz abriu a porta do quartinho:
Somente a bagunça orquestrada por seu irmão e ele.
-Nada! – Avisou Rafael voltando
para o beliche – Você teve um pesadelo – E começou a empurrar Lucas para que o
menino voltasse para a cama debaixo.
-Eu juro que vi! E ele tinha uma
cauda!
-Uma cauda?
-Isso. Igual a um gato – Luquinha
encolheu-se.
-Foi um pesadelo... Não passou
disso...
-Posso dormir contigo essa noite,
mano? Só esta noite.
-Pode sim – Respondeu Rafael após
um longo e impaciente suspiro. Deixou que Lucas deitasse no canto da parede e
ficou de olho no quarto. Podia até mesmo imaginar, tão nitidamente quanto na
palpável realidade, um homem com cauda de gato passando sorrateiramente pelo
quarto.
II
A sessão terror se dava todas as
sextas-feiras, a partir da meia-noite, no canal 13. Rafael, como bom apreciador
de filmes Trash, não perdia uma.
Ligava a TV do quarto em baixo volume e mergulhava no universo sobrenatural.
Lucas era proibido pelos pais de ver aos filmes, mas por vezes, fingindo
dormir, os assistia em segredo. Rafael percebia, fingindo não notar.
Por volta de metade do primeiro
filme apresentando, “A ilha da insônia”, Rafael, que havia deixado a porta do
quarto aberta, viu, de relance, um vulto passar, rápido, pelo corredor.
Levantou-se, com o coração aos pulos.
-O que se esconde aqui? – Perguntou o protagonista do filme.
Rafael irrompeu no corredor
esperando se deparar com qualquer coisa: Uma vez mais nada viu. O vulto fora na
direção da cozinha. Na certa era seu pai ou sua mãe.
-Mãe? Pai? – o rapaz chamou - Foi
um de vocês que passou agora no corredor?
Do quarto do casal, com a porta
fechada, veio a voz sonolenta e impaciente da mãe:
-Estamos dormindo Rafael!
-Eu... Vi alguém passar...
-Que alguém que nada! –
Prosseguiu a mãe que nem sequer se deu ao trabalho de levantar – O sono e os
filmes de terror estão te fazendo ver coisas!
Vá se deitar!
O filho pediu desculpas e fechou
a porta do quarto. Não queria mais ver o corredor.
-Seja o que for – um médico
explicava ao mocinho do filme – não é humano.
Rafael desligou a TV e se deitou.
No escuro, ouviu a voz do irmão:
-Você o viu, não é? Viu ele...
-O sono nos faz ver coisas, Luquinha. Boa noite.
Fosse o que fosse que passou pelo
corredor, Rafael estava certo de que tinha uma... Cauda, que serpenteava no ar.
III
A Biblioteca Pública de Pinheiros
estava praticamente vazia naquela manhã. A maioria das pessoas decerto preferia
fazer pesquisas no conforto de seus lares, na Internet. Rafael bem que havia
tentado, mas a busca fora infrutífera.
-Tem coisas que você só encontra
nos livros – explicou a bibliotecária ao ouvir o relato de Rafael a respeito de
suas dificuldades de pesquisa. Logo, ela voltava com três tomos, grandes,
capa-dura, recheados de páginas amareladas – Esse material é para um trabalho
de escola? – A mulher questionou desconfiada.
-É sim...
Foi no segundo livro, “Mitos e
lendas demoníacas”, que, após longa procura, o rapaz encontrou a “criatura” que
batia com o que seu irmão e ele tinham visto.
“Ajudantes de Satã, também
conhecidos por Auxiliares de Lúcifer ou Caudas do Diabo. Segundo a lenda,
entram em casas durante a noite para raptar crianças e carregá-las para os
domínios infernais. Na ausência das crianças (a alegria dos pais), o demônio
consegue chegar aos adultos.”
Acima do texto, a ilustração de
um horrendo homem, quase esquelético, nu, curvado, unhas cumpridas, cabelos
negros pelos ombros, e com uma cauda, semelhante à de um felino, felpuda, mas
com um par de longos espinhos na ponta.
O rapaz fechou o livro e partiu
para a escola.
IV
Chegando em casa, Rafael pensou muito
a respeito de se deveria ou não contar aos pais a respeito das “visões” que Lucas e ele vinham tendo.
Temendo que não o levassem a sério (e responsabilizassem os tão adorados filmes
Trash), achou melhor não fazê-lo.
Quando se deitou, o preocupado e
assustado rapaz imaginou que não conseguiria dormir. Era muito nítida, em sua
mente, a gravura da cria infernal daquele livro. Para Rafael, o sono tardou,
mas chegou.
Acordou com os berros do irmão.
-Mano! Socorro! – Debatia-se
Luquinha enquanto a Cauda do diabo o arrastava em direção ao quartinho de
bugigangas.
Rafael saltou do beliche e
lançou-se contra a demoníaca criatura que, surpreendida pelo ataque, acabou
largando Lucas.
Os pais, acordando com os gritos
de Lucas e os ruídos do embate, tentavam, do corredor, entrar no quarto dos
meninos, mas, para aumento do desespero paternal, a porta fora trancada pelo
lado de dentro.
-Luquinha! Rafa! – A mãe estava histérica
– O que está havendo?
Um grito, sobrenatural, infernal,
se espalhou por toda a casa. Findado o eco, tudo o que restou foi o silêncio da
madrugada.
Quando a porta finalmente foi
arrombada, e as luzes acesas, os pais das crianças se viram diante da seguinte
cena: O quarto todo revirado, Lucas, em um canto, encolhido no chão, chorando e,
no outro lado, Rafael, ofegante, segurando o que parecia ser uma corda.
-Eu o impedi! – Rafael berrou – Ele
fugiu... – apontou a porta entreaberta do quartinho de bugigangas – Mas
arranquei a sua cauda!
Repentinamente, o prêmio da
contenda, a cauda, virou uma cobra coral, se enroscou no braço de Rafael e o
picou.
O garoto tombou.
E a cauda do diabo saiu vitoriosa.
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